sexta-feira, 9 de julho de 2010

A CHINA EM ITÁLIA

"Lo Scopone Scentifico" (1972), de Luigi Comencini. Vi este filme in illo tempore, recordo-me mal da história, mas lembro-me que andava à volta de um jogo de cartas, a Scopa, creio. O jogo, no filme, é uma metáfora da desigualdade social que à data (à data…?) lavrava por Itália (estamos em 1972, qualquer filme que se preze tem de conter a sua quota parte de denúncia…), e lembro-me sobretudo da crueldade com que o filme termina, quando depois de ter tudo na mão, o miserável casal de italianos (Silvana Mangano e Alberto Sordi), para quem aquele jogo pode constituir um passaporte para uma vida melhor, acaba, movido pela cupidez, derrotado e humilhado por um golpe de infortúnio, perante a completa indiferença e desprezo da rica americana (Bette Davis), que uma vez por ano, num misto de opulência e ociosidade, abre a sua casa ao povo, para se dedicar ao tradicional jogo de cartas. Não sei porque me lembrei agora deste filme, mas desconfio que o mesmo está na génese da minha antipatia por casinos e jogos a dinheiro. Não gosto, acho que trazem ao de cima toda a estupidez humana.

2010.07.10

quarta-feira, 7 de julho de 2010

MAIS DO MESMO

Bem, parece-me evidente que estes dirigentes do Sporting devem ser responsabilizados. E quando digo responsabilizados, não me refiro às eventuais repercussões na esfera directiva, leia-se serem corridos nas próximas eleições, refiro-me, isso, sim, a responsabilidade civil pelos actos praticados no exercício do seu mandato. Não há outra forma de dizer as coisas. Esta direcção, na qual votei (e cuja linha sempre defendi, desde Roquette), no curto período que medeia desde que tomou posse até hoje, conseguiu superar todas as expectativas, para baixo, claro. Depois de pagar 6,5 milhões pelo Pongolle, num acto de fuga em frente perfeitamente irracional, resolveu, 1) segundo a CMVM, 2) a acreditar nos jornais, vender alguns dos melhores jogadores da equipa ao desbarato. 11 milhões por João Moutinho, nas circunstâncias que se conhecem, 5 milhões por Izmailov e 5 milhões por M. Veloso, segundo a comunicação social, quando há menos de um ano, qualquer destes jogadores valia seguramente mais. E não me venham dizer que o mundo mudou, que o mercado arrefeceu, e etc., porque não foi assim há tanto tempo que compraram o francês ao A. Madrid por uma quantia perfeitamente inusitada. E vender jogadores com muito ainda para dar para ir comprar jogadores de 2.ª linha (Pongolle? Valdés?) ou em fim de carreira (Maniche) é no mínimo incompreensível. Depois do descalabro do ano passado, do qual está isento Costinha, mas não Bettencourt, temos novamente um defeso marcado pelo desacerto e pela falta de estratégia, circunstâncias que afastam os adeptos e não concorrem, seguramente para a tal “galvanização” da massa associativa a que o presidente do clube diz querer assistir. Não é vendendo jogadores da casa e deixar fugir outros como Hugo Viana (que, com alguma probabilidade acabará no Benfica ou no Porto), porque não há dinheiro, e depois desbaratar o pouco que há em jogadores banais, a maior parte desconhecidos dos adeptos, que se entusiasma seja quem for. Enfim, infelizmente, é hoje consensual que a equipa do SCP é, qualitativamente, inferior à dos seus principais adversários, e todos os caminhos apontam para que a situação não se inverta, antes se agrave, com todas as implicações que daí advêm. Não sei, por exemplo, que peso tinha nas receitas a venda de camisolas de jogadores como Moutinho ou Veloso, mas duvido que a venda de camisolas dos reforços possa colmatar a perda. São demasiados actos falhados, más contratações, gastos absurdos, reformulações constantes na estrutura. E se do ponto de vista da gestão orçamental, pura e dura, não auguro nada de bom, no aspecto desportivo, as coisas não são seguramente melhores. O sinal que passou, com o “caso Moutinho”, é grave. De ora em diante, ficámos a saber que uma notícia num jornal é suficiente para dar cabo de um plantel. Não vou entrar em teses mais rebuscadas, que vi defendidas por outros, não por mim, como as de que Costinha estaria mandatado por Pinto da Costa ou que o intuito daquele é afastar todos os jogadores que não são representados por Jorge Mendes, teses que me parecem, francamente, despropositadas, mas não nos atirem areia para os olhos. Maçãs podres??? Segundo o que resulta da leitura dos jornais, o Moutinho, após a insidiosa notícia da braçadeira de capitão, terá pedido a intervenção do Director Desportivo, que, alegadamente, a terá negado. A mim, parece-me que é para isso, também, que ele terá sido contratado, para defender os jogadores do grupo de trabalho sempre que estes, mal ou bem, se sintam atingidos. E não para se demitir das suas funções. É que com a sua (in)acção, precipitou esta situação, lamentável a todos os níveis. E o mais triste é que em vez de uma posição de força perante a reacção do jogador, que, alegadamente, perante a resposta de Costinha se terá recusado a treinar, a direcção do SCP tenha capitulado. É triste, muito triste, mas alguém imagina o Pinto da Costa a ceder assim…? Nem em sonhos.

2010.07.06

segunda-feira, 5 de julho de 2010

DERAM CABO DISTO TUDO

Desde que o ex-jogador do FCP Costinha assumiu as funções de Director Desportivo do Sporting Clube de Portugal, os casos sucedem-se a bom ritmo. Primeiro, o Izmailov, agora, o Moutinho, provavelmente a seguir o Veloso. A culpa não é seguramente só dele, os referidos jogadores também terão a sua quota-parte de responsabilidade, e, above all, aquele presidente que parece falar de mais e pensar de menos.
Vamos por partes. O Presidente. Aparentemente, com provas dadas na banca, com um passado de sportinguismo acima de qualquer suspeita, com uma passagem meritória pelo dirigismo no SCP, José Eduardo Bettencourt reunia, à partida, todas as condições para ser um bom presidente. Infelizmente, a realidade é outra. De futebol não percebe nada, já se viu. Três directores desportivos desde que tomou posse há cerca de um ano, contratações ruinosas sem fim à vista (outra vez, o Pongolle…), agora o caso Moutinho. Trocar um internacional A, com 23 anos, formado no SCP, capitão de equipa e putativo símbolo do clube por 11 milhões de euros + um jogador cujo único jogo que fez pelo FCP este ano foi nos 5-0 com que o Arsenal brindou os tripeiros , é, no mínimo, ridículo (alguém imagina o FCP a trocar o Raul Meirelles pelo, sei lá, Paulo Renato ou outro qualquer jogador de 5.ª categoria do plantel do SCP? Por amor de Deus!!). São estas medidas de gestão que fragilizam e subalternizam o SCP e não há cá palavras indignadas sobre o carácter deste ou daquele que o apaguem. A facilidade com que uma notícia do pasquim do Benfica cria instabilidade no SCP é assustadora. E nessa ocasião, como em tantas outras, o Presidente do Sporting, em vez de defender o clube e os seus jogadores e atacar, quem de fora, faz jogo sujo, cai na esparrela. Lamentável.
O Director Desportivo. O Costinha nunca foi propriamente um modelo de sportinguismo, mas até admito que um profissional com aquelas funções não tenha de o ser. Mas exige-se no mínimo algum bom senso. E a falta deste, que ressalta desde que exerce aquelas funções, traduzida em casos como o de Izmailov ou agora de Moutinho, prenuncia que nada de bom vai sair deste consulado. A sensação que tenho é que o Costinha tem saudades do protagonismo que a carreira de futebol lhe trouxe e que não descansa enquanto não limpar o balneário de jogadores que lhe façam sombra. De medidas acertadas ou contratações de jeito, não me recordo nem uma.
O ex-capitão. Sobre a atitude do João Moutinho nem me quero alongar. Claro que ele é profissional, claro que ele pode ir para onde quiser, mas para quem como ele que ganhava o que ganhava, exigia-se um bocadinho mais de humildade e gratidão ao clube que o formou. Depois da cena lamentável que protagonizou há dois anos, depois de ver o seu ordenado revisto (e bem), era expectável outra atitude.
Mas estava nas mãos dos dirigentes do meu clube evitarem estas cenas. É para isso que lá estão, para defender os interesses do clube que representam, não para darem cabo dele. E cheira-me que sobre estes, se continuarmos por este caminho, não poderá senão dizer-se um dia mais tarde que deram cabo disto tudo.

2010.07.04