O dia seguinte é doloroso. Aliás, o martírio começa logo que o árbitro apita e nós desligamos a televisão imediatamente, conscientes de que as imagens que se seguirão são de júbilo inimigo e de dor incomensurável para as nossas cores. A melhor solução é ver um DVD, não há perigo de imagens inconvenientes e de lugares comuns imbecis saltarem inopinadamente da televisão e ofenderem os nossos sentidos. Foi o que fiz no dia em que os lampiões ganharam o último campeonato. Na iminência de tão horrível evento, aluguei dois filmes, fechei as janelas todas de casa e predispus-me a ignorar todas e quaisquer manifestações de alarvidade que inevitavelmente se seguiriam e que, infelizmente, se registaram. E é o que tenho feito, de um modo quase anestesiado, desde que o fêcêpê desatou a roubar campeonatos a quem de direito. Mas o dia seguinte é ainda mais penoso. Gente com cachecóis, faça chuva ou faça sol, bancas de jornais repletos de mentiras, telejornais dedicados quase por inteiro a um festival de boçalidade. Depois é deixar que os dias passem, como quem não quer a coisa, fingir que não gostamos de bola e que não nos deixamos afectar, espreitarmos o resultado, a medo, de um jogo que não vemos, porque “eles é que ganham e a malta é que se chateia”. Pois.
2008.04.17
2008.04.17