Um destes dias decidi recuperar três relógios que tenho, que, por razões várias, não uso ou uso pouco. Depois de, no representante oficial da marca, me terem pedido € 1.250 por uma correia de um Rolex (pela correia, não pelo relógio), o que me pareceu ligeiramente descabido (mas só ligeiramente, que eu sou um gajo fino e gasto isso amiúde em correias de relógio, está bom de ver), achei que talvez uma relojoaria menos prestigiada fosse mais indicada para aquilo que queria. Aqui chegado, o funcionário que me atendeu, depois de se lançar avidamente (só faltou mergulhar lá dentro) ao saquinho em que trazia os ditos três relógios, o que não conseguiu, porque eu lhe tirei o dito cujo das mãos, informou-me, com um ar muito satisfeito, que o melhor era eu ir ao relojoeiro da loja ao lado. O que fez sem ter visto os relógios ou que eu lhe tivesse dito ao que ia. “Mas não tem correias para relógios?” ainda perguntei eu. Que sim, mas tinha poucas, e provavelmente eu não ia gostar de nenhuma. “E para substituir o botão que dá corda?”. Ah, isso, então, nem pensar. Desanimado, ainda tentei: “E não podem mandar para a fábrica, ou para o representante…?”. Nope, népias, niente, nein. “Mas ali na loja do lado, fazem isso e de certeza que lhe resolvem todas essas questões.”. Se o gajo tivesse sido carrancudo ou antipático, eu ainda entendia. Provavelmente, estava a fazer outra coisa qualquer e não queria ser interrompido. Mas não, não só foi extremamente simpático como bestialmente solícito, ainda veio comigo à rua, apontou-me para uma loja do outro lado da rua e obrigado e boa tarde. A cena fez-me lembrar um sketch dos Monthy Python, em que o Michael Palin finge cortar o cabelo ao Graham Chapmann, porque não obstante ser barbeiro, tinha horror a tesouras e a cortar cabelos. Este gajo era do mesmo género, não devia gostar de ser relojoeiro, se calhar queria era ser barbeiro.
2008.07.08
2008.07.08