quarta-feira, 25 de junho de 2008

ERA PRENDÊ-LOS A TODOS

A propósito das sucessivas greves e manifestações que assolam o país por causa do aumento dos combustíveis, dos pescadores aos camionistas, passando pelos agricultores e pelos buzineiros profissionais, gostaria de pedir, encarecidamente, ao Governo que mande esses pedinchas de merda dar uma volta. Com reivindicações que chegam a raiar a chantagem pura, alguns ditos representantes destes e de outros sectores, aproveitando o estado de necessidade em que mergulham o país com as suas paralisações, exigem a atribuição de mais e mais subsídios, incentivos, benefícios e sei lá mais o quê. Como o raio dos subsídios sai do meu bolso e do bolso de todos nós, e porque eu estou farto de ter de arcar com os custos que os riscos da actividade comportam sem nunca ter direito aos lucros da mesma, eu nem sequer os recebia e prendia imediatamente todos os que causassem desacatos (sim, sou reaccionário, reaccionaríssimo, mesmo). Farto desta gente que só sabe pedinchar e reclamar.

A este respeito, gostaria de recordar uma cena de um filme que vi, quando miúdo, que me marcou e que me põe, por vezes, a pensar porque raio este povo é assim. Refiro-me ao filme ‘As Vinhas da Ira’, de John Ford, baseado na obra homónima de John Steinbeck. Passado durante a crise em que os EUA mergulharam, após o crash bolsista de 1929, recordo, em particular, uma cena em que o protagonista principal (no filme, o Henry Fonda), miserável como poucos, e depois de lhe ser visto recusado mais um emprego que lhe permitisse sustentar a família inteira, decide, fazendo das tripas coração, gastar as últimas moedas que tinha para comprar uns rebuçados (uns “chupas”, para ser mais exacto) aos filhotes. Confesso que me vieram as lágrimas aos olhos. Bem sei que ainda era um miúdo quando vi o filme e não corria o risco de parecer menos homem por isso (em bom rigor, acho que não passava de um garotelho quando vi o filme, nem aquele buço manhoso, que todo o adolescente apresenta à guisa de passaporte para a maioridade, tinha ainda). Mas, caramba, o que aquilo me tocou. E a este respeito porquê? Porque aquele desgraçado que não tinha onde cair morto, não foi para Washington chorar em busca de uma esmola do Estado, muito menos apitar ou fazer chantagem. Foi à procura de trabalho, e não obstante a miséria que o assolava, teve ainda um último gesto de dignidade. Mesmo que não tenha tido mais nada depois disso.

2008.06.22

segunda-feira, 23 de junho de 2008

GENEVE EST PORTUGUÉ

Sem exageros, eu diria que Genève tem mais portugueses que o Algarve. Como cantava um alegre grupo de foliões que por lá vi, ‘Geneve est portugué, c’est notre cité’ (assim com erros e tudo que é mais fiel ao espírito da coisa). E mais não me apetece dizer sobre o EURO 2008, essa competição menor (qual organização suíça, qual quê! Organizados somos nós! Nunca me esquecerei da vergonha que foi aquela entrada para o jogo com a Turquia!!!).

2008.06.22

segunda-feira, 2 de junho de 2008

RIDÍCULO, NÃO?

Eu gosto muito de bola. Gosto do Sporting e da Selecção Nacional. Fui ver o Euro 2000, na Bélgica e na Holanda, vi no estádio, incluindo a final, vários jogos do Euro 2004, fui ao Mundial da Alemanha em 2006, e parto, no sábado, para a Suiça, para ver o Euro 2008. Posto isto, há que dizer que uma coisa é gostar de bola, outra é ter de ‘gramar’ a toda a hora com a Selecção Nacional de Futebol. E é no mínimo ridículo que, enquanto à mesma hora, a Selecção Nacional de Voleibol jogava a possibilidade de se apurar para os Jogos Olímpicos e a Selecção Nacional de Rugby, na modalidade de Sevens, jogava um importante torneio na Escócia, o canal público de televisão (acompanhado pelos canais privados) fazia directos sem fim à vista sobre a viagem dos jogadores da Selecção Nacional para a Suiça. Directos dos jogadores dentro da camioneta, directos dos jogadores fora da camioneta, directos dos jogadores a entrar no avião, directos dos jogadores no interior do avião, directos dos jogadores a sair do avião, comentários sobre os sapatos e as gravatas dos jogadores, comentários sobre as mordomias várias que os jogadores vão ter durante o torneio. Findo os directos e os “motivos de reportagem” junto da Selecção, toca de levar com os comentários do bom povo, na Suiça e em Portugal, sobre as expectativas da Selecção. Mais, até o insigne Prof. Marcelo, munido do agora indispensável cachecol da Selecção, debita a sua sapiência sobre futebol. Como ele sabe de tudo, também é suposto saber de bola. Ele, e por vistos quem o contrata, acredita nisso. Adiante.

A mim, que nada sei sobre este fenómeno da comunicação de massas, parece-me claramente excessivo. São ridículas as notícias sobre a presença do filho do Roberto Leal nos treinos da Selecção, são ridículas as novelas sobre a suposta namorada do C. Ronaldo e sobre os penteados do Miguel Veloso ou as birras do Quaresma, é ridícula a presença dos empresários a negociarem contratos em plena concentração da Selecção, não se entende, de modo nenhum, como tudo isto é noticiado até à exaustão. E é aflitivo ver o bom povo em histeria para ver passar os jogadores que do alto da sua soberba (porque nessa altura já não podem ser incomodados…) nem um sorriso esboçam para os desgraçados que ficam horas à espera deles.

Sem prejuízo de achar que o Scolari foi e é o melhor Seleccionador Nacional de sempre (os resultados por ele obtidos assim o evidenciam e não há propaganda tripeira que consiga escamotear tal facto), tenho algumas dúvidas que, desta feita, a Selecção consiga os mesmos resultados alcançados durante o Euro 2004 e no Mundial de 2006. Acho que anda ali demasiada arrogância e pouca humildade. Não sei, digo eu, oxalá me engane.

2008.06.02